Educador do Mato Grosso aproxima adolescentes da pesquisa para transformar comunidades
Sou pesquisador e cientista por formação. Percebi que existia uma lacuna no ensino médio, onde eu poderia atuar para levar aos meus alunos uma ciência transformadora. Eles aprenderiam a olhar o meio socioambiental em que vivem e usariam recursos de pesquisa para transformar a sua própria realidade.
Esse trabalho começou em 2011, na cidade de Juína (MT), com uma aluna chamada Bianca Valeguski, que tinha apenas 16 anos. Ela desenvolveu um trabalho com o baru, uma castanha típica da região, e conquistou o Prêmio Jovem Cientista. Foi o primeiro reconhecimento do estado do Mato Grosso em 26 anos de história do prêmio.
Desde então, eu tenho buscado e garimpado talentos nas escolas. A ideia é desenvolver projetos de cunho socioambiental, envolvendo a ciência como uma ferramenta transformadora.
Começo o projeto sempre com um insight, de ouvir a ideia do aluno e entender como ele enxerga determinada situação no ambiente em que está inserido. Tudo parte dessa sementinha, onde temos a oportunidade de ver alguma coisa que pode ser transformada. A partir daí, começamos a usar as ferramentas científicas de pesquisa e desenvolvimento.
Não tem como desenvolver isso com uma turma numerosa, até pelo tempo de orientação e dedicação do professor a cada projeto. Sempre escolho até quatro alunos com uma ideia.
Hoje eu trabalho com quatro alunas, de 15 a 17 anos, em uma escola de Barra do Garças (MT). Elas estão desenvolvendo um projeto de aproveitamento da madeira para transformá-la em cooler de bebidas. As meninas desenvolvem a metodologia de trabalho com a minha orientação e fazem os testes para chegar até a concepção de um projeto científico, que acaba sendo materializado em um produto final.
Isso tudo é muito legal, porque as alunas resolvem o problema ambiental do acúmulo de resíduos e criam algo de valor que pode voltar para a comunidade. Ganha a sociedade, a indústria e a escola. Eu acho que esse tripé se articula muito bem.
Para começar um projeto como esse, o primeiro passo é entender a necessidade de cada grupo. Esse ponto é fundamental para resolver um problema local com os alunos. Eu costumo falar: pense de forma global, mas faça primeiro na sua comunidade.
Os resultados de projeto já são muitos. Além da Bianca, que conquistou o Prêmio Jovem Cientista, tem a Kemilly Barros, que foi indicada ao Google Science Fair, e a Cibele Vilela, que ficou entre os cinco melhores projetos de sustentabilidade da Fecomercio. Muitos trabalhos ajudam a comprovar que funciona trabalhar a ciência de uma forma transformadora com os alunos. Ganhar prêmios é muito bom, mas quando o seu aluno ganha é melhor ainda.
Fonte: Porvir